Pesquisa do CIO
Investindo no Brasil: Surfando uma onda mais longa
Apesar dos desafios fiscais, os dados recentes indicam um quadro macroeconômico mais equilibrado para o país.
Com a inflação em desaceleração e a Selic em níveis elevados, o Brasil entra em nova fase do ciclo econômico que sustenta uma perspectiva mais positiva para o país. A possibilidade de cortes na taxa de juros reforça a mudança de ciclo em curso.
Fatores-chave
Desafios fiscais
.Os últimos dados divulgados no Brasil têm sido benignos em termos de atividade econômica, inflação e emprego. No entanto, os desafios fiscais permanecem, com o contínuo desequilíbrio entre receitas e despesas pressionando a dívida pública.
Ambiente global
O ambiente global tem ajudado as economias dos mercados emergentes, e o Brasil, especificamente, tem surfado bem essa longa onda.
Taxa Selic
O Copom elevou a taxa Selic em junho para 15%, e vemos isso como provavelmente o último aumento deste ciclo. O BC provavelmente será capaz de cortar as taxas até o 4T25 ou 1T26, à medida que as expectativas de inflação caem mais perto de sua meta de 3%.
Destaques econômicos
- Os últimos dados divulgados no Brasil têm sido muito benignos em termos de atividade econômica, inflação e emprego. No entanto, os desafios fiscais permanecem, com o contínuo desequilíbrio entre receitas e despesas pressionando a dívida pública. O ambiente global tem ajudado as economias dos mercados emergentes, e o Brasil, especificamente, tem surfado bem essa longa onda.
- O indicador mensal de atividade econômica do Banco Central do Brasil (BCB), o IBC-Br, subiu 0,16% mês a mês em abril. A média móvel de três meses permaneceu robusta em 0,5%. Em termos anuais, o IBC-Br registrou um aumento de 2,46% ano a ano, com a média de 12 meses em 4%. Excluindo os setores de agricultura e pecuária, o IBC-Br subiu 0,1% mês a mês, em comparação com 0,67% em março e 0,23% na média móvel de três meses anterior.
- Como resultado desses números recentes de atividade, os participantes do mercado revisaram suas previsões de crescimento do PIB para 2025 para cima, agora projetando uma expansão na faixa de 2,2% a 2,5%.
- Em maio, o índice de preços ao consumidor registrou um aumento de 0,26% mês a mês, levando a média de 12 meses para 5,32% ano a ano, uma queda de 21 pontos base em comparação com a média de 12 meses anterior. Os preços dos alimentos consumidos no domicílio e dos bens industriais desaceleraram durante o mês, ambos registrando inflação próxima de zero. Por outro lado, os preços regulados aceleraram, principalmente devido ao aumento das tarifas de eletricidade.
- Com relação à inflação subjacente, a maioria das medidas monitoradas exibiu uma desaceleração. Além disso, tanto os preços das commodities quanto a taxa de câmbio estão atualmente favoráveis e espera-se que contribuam para uma redução adicional na inflação negociável nos próximos meses.
- Como resultado dessas leituras mais suaves de inflação, os economistas do mercado, de acordo com a pesquisa Focus do Banco Central do Brasil, revisaram sua previsão de inflação de preços ao consumidor em 2025 para baixo, de 5,5% um mês atrás para 5,2%.
- Os números da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) continuaram a indicar um mercado de trabalho forte em maio, com uma queda acentuada no desemprego e outro aumento nos ganhos reais.
- A taxa de desemprego caiu para 6,2% em maio, o nível mais baixo já registrado para o mês. Ajustando para sazonalidade, o desemprego caiu de 6,3% em abril para 6,1% em maio, o mais baixo em toda a série histórica. O número de desempregados caiu 3,0% mês a mês na margem, enquanto a população ocupada cresceu 0,3% mês a mês. A taxa de participação da força de trabalho permaneceu estável em 62,5%. Finalmente, os ganhos reais médios subiram 0,4% mês a mês na margem e estão em alta de 3,2% ano a ano.
- Quanto à política monetária, a ata da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) adotou uma postura cautelosa, sinalizando uma pausa, em vez de uma conclusão, no ciclo de aumentos das taxas de juros, ao mesmo tempo em que reconheceu que as taxas de juros elevadas já estão exercendo um efeito restritivo sobre a atividade econômica. O comitê decidiu de forma unânime elevar a taxa Selic em 0,25 pontos percentuais, para 15% ao ano.
- O Copom observou alguma melhora nas perspectivas econômicas globais, embora essa permaneça incerta e volátil, com riscos como potenciais choques de petróleo de conflitos no Oriente Médio ainda presentes. No mercado interno, o comitê observou que, embora a economia continue a mostrar resiliência, há sinais emergentes de uma moderação gradual, e espera-se que os efeitos do recente aperto monetário se tornem mais aparentes.
- A ata também destacou uma desaceleração no crescimento do crédito, com taxas de juros mais altas levando a um apetite de risco reduzido entre os bancos e um aumento no ônus do serviço da dívida para as famílias.
- Na frente fiscal, a ata mencionou o debate em andamento sobre os aspectos estruturais do orçamento do governo e a redução gradual das isenções fiscais, observando que essa discussão poderia influenciar as percepções de sustentabilidade da dívida e prêmios de risco.
- Com relação à inflação, o Copom reconheceu resultados mais favoráveis para itens voláteis, como alimentos e bens industriais, mas manteve o ponto de que a inflação de serviços permanece acima do nível consistente com a meta de inflação. O comitê reiterou sua intenção de pausar novos aumentos de taxas e monitorar os efeitos das ações políticas recentes, enfatizando que as taxas de juros provavelmente permanecerão em níveis restritivos por um período prolongado.
- De forma resumida, embora o tom geral tenha permanecido hawkish, o Copom reconheceu os primeiros sinais de moderação econômica e pretende avaliar o impacto total do recente aperto da política antes de considerar novos ajustes.
- Além disso, na frente fiscal, a recente tentativa do governo de aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que acabou não se concretizando, destaca dois aspectos indiscutíveis da trajetória fiscal do Brasil. Primeiro, o governo enfrenta desafios significativos para cumprir as metas estabelecidas pelo novo arcabouço fiscal por meio de qualquer forma de aumento de impostos, mesmo aqueles que não exigem aprovação do Congresso.
- Em segundo lugar, parece haver, até agora, pouca disposição para lidar com o aumento das despesas obrigatórias. Como resultado, a promessa recorrente de reduzir os benefícios fiscais permanece como a única medida em consideração um compromisso que foi feito em várias ocasiões, mas que ainda não foi realizado.
Cenário global
- Os mercados financeiros brasileiros parecem esperar que o país seja obrigado a corrigir sua trajetória fiscal, uma vez que o ciclo eleitoral se conclua. Além disso, certos fatores externos são atualmente favoráveis para os mercados emergentes.
- Com a taxa Selic em níveis elevados e um dólar americano globalmente mais fraco, o real brasileiro se valorizou, o que ajudou a conter a inflação e criou espaço para o início de um ciclo de corte de juros.
- Além disso, em um ambiente global mais avesso ao risco, o status do Brasil como um grande exportador de commodities continua a fornecer um grau de proteção, apesar das vulnerabilidades fiscais domésticas em andamento.
- Vamos agora nos concentrar no cenário global. Vemos isso ajudando os mercados emergentes, pois os fluxos estão sendo desviados para países bem-posicionados, como o Brasil. Em seguida, apresentamos um resumo de nossa visão.
- Após um início turbulento em 2025, o ۶Ƶ prevê maior estabilidade na política comercial e fiscal dos EUA nos próximos meses. Embora os riscos geopolíticos permaneçam elevados, particularmente no Oriente Médio, Europa Oriental e Ásia, os mercados financeiros têm mostrado resiliência.
- Espera-se que o Federal Reserve retome os cortes nas taxas de juros, o que deve apoiar os mercados de títulos e levar a rendimentos mais baixos globalmente.
- O dólar americano provavelmente enfraquecerá ainda mais à medida que os investidores se diversificam em outras moedas.
- Política comercial e fiscal dos EUA: A incerteza em torno das tarifas e da política fiscal dos EUA deve diminuir em breve, com a expiração da pausa tarifária "recíproca" e a provável aprovação da lei “One Big Beautiful Bill”, que estende os cortes de impostos e aumenta os gastos com defesa. A taxa efetiva de tarifas dos EUA deve se estabilizar em torno de 15%, com taxas mais altas para as importações chinesas. Os déficits fiscais provavelmente permanecerão altos, mantendo o foco em políticas voltadas para o crescimento.
- Riscos geopolíticos: As tensões permanecem altas em várias regiões, mas grandes eventos geopolíticos historicamente tiveram impacto limitado no mercado a longo prazo. Os preços do petróleo são o principal canal para potenciais choques, embora interrupções significativas não sejam o caso base. Ouro, títulos do Tesouro dos EUA e outros ativos de refúgio são recomendados para proteção.
- Rendimentos de títulos e taxas de juros mais baixos: Vários grandes bancos centrais já cortaram as taxas, e espera-se que o Fed siga com novas reduções. Este ambiente deve beneficiar títulos de alta qualidade e grau de investimento, com rendimentos de 10 anos esperados para declinar na maioria das principais moedas.
- "Desdolarização" em andamento: O dólar americano depreciou cerca de 6% no acumulado do ano, e mais fraqueza é esperada à medida que os investidores globais se diversificam em outras moedas principais. Apesar disso, os EUA permanecem atraentes para setores de crescimento, especialmente inteligência artificial.
- Temas de crescimento estrutural: As principais oportunidades de investimento são esperadas em inteligência artificial, infraestrutura de energia e inovação em saúde.
- O Copom elevou a taxa Selic em junho para 15%. Como explicamos acima, vemos isso como provavelmente o último aumento deste ciclo. O BCB provavelmente será capaz de cortar as taxas até o 4T25 ou 1T26, à medida que as expectativas de inflação caem mais perto de sua meta de 3%.
- Os títulos pré-fixados se beneficiaram recentemente de um declínio nas expectativas de inflação, um desenvolvimento amplamente atribuído à valorização do BRL.
- Como o BCB tem enfatizado sua visão de taxas de juros mais altas por mais tempo, as expectativas atuais do mercado agora antecipam uma redução na taxa de juros até o primeiro semestre do próximo ano.
- Apesar desses desenvolvimentos, achamos que o prêmio de risco na curva de juros não é suficiente, então mantemos uma visão de Pouco Atraente sobre os títulos pré-fixados.
- Continuamos a preferir títulos de taxa pós-fixada, que atualmente oferecem retornos reais atraentes de quase 10% acima da taxa de inflação projetada para 12 meses. Esse diferencial significativo de rendimento proporciona uma proteção relevante contra possíveis surpresas inflacionárias nos próximos meses.
