Pesquisa do CIO
Trump testa otimismo sobre o comércio
As ameaças tarifárias de Trump visam UE e México, mas os mercados seguem resilientes.
O aumento das tarifas proposto por Trump intensifica as negociações comerciais com parceiros-chave. Neste relatório, avaliamos os possíveis impactos para os mercados globais e por que seguimos projetando um cenário construtivo para o S&P 500 nos próximos 12 meses.
Tarifas, comércio global e estratégias de investimento
- No sábado (12), o presidente Donald Trump ameaçou impor tarifas de 30% sobre importações da União Europeia e do México, encerrando uma semana em que retomou uma postura agressiva nas negociações com seus parceiros comerciais.
- Em uma publicação nas redes sociais, ele descreveu o déficit comercial do país como uma ameaça à segurança nacional. A escalada das tensões comerciais ocorre após o fim, na semana passada, de uma pausa de 90 dias na maioria das tarifas do “Dia da Libertação” anunciadas pela Casa Branca em 2 de abril. Durante a semana, houve uma série de ameaças comerciais, incluindo o envio de cartas a 14 países, notificando que tarifas mais altas seriam impostas em 1º de agosto, caso não houvesse concessões adicionais. A administração também sinalizou a aplicação de uma tarifa de 50% sobre o cobre e de até 200% sobre produtos farmacêuticos importados.
- A postura mais agressiva em relação às tarifas não abalou o otimismo dos investidores. O S&P 500 atingiu uma máxima histórica no fim da semana e, mesmo com uma queda de 0,3% na sexta-feira, o índice acumula alta de 25,7% desde seu ponto mais baixo no ano, registrado em 8 de abril, quando as preocupações com o comércio estavam mais intensas.
- Essa reação contrasta com a queda de 12% nas ações dos EUA na semana seguinte ao discurso de “Dia da Libertação”, em 2 de abril, no qual o presidente anunciou uma série de tarifas “recíprocas” contra parceiros comerciais que registram superávit com os EUA.
- Apesar do ruído, acreditamos que o cenário mais provável é de que a tarifa efetiva dos EUA encerre o ano em torno de 15%. As tarifas baseadas na IEEPA provavelmente serão consideradas ilegais pela Suprema Corte, mas isso deve ocorrer apenas no fim deste ano ou no início do próximo. O uso arbitrário da IEEPA pelo presidente na última semana — inclusive para justificar tarifas sobre o Brasil — reforça essa visão. As barreiras tarifárias podem ser reconstruídas por outros meios, como tarifas por país ou produto, mas com escopo muito mais limitado.
- Como os últimos acontecimentos se encaixam nesse cenário? A resiliência dos dados econômicos dos EUA e as altas recentes nas bolsas parecem ter encorajado o presidente Trump a intensificar suas táticas de pressão para obter vantagem nas negociações bilaterais. No conjunto, as tarifas atualmente propostas elevariam a tarifa efetiva para níveis iguais ou superiores aos de 2 de abril.
- Se as tarifas mencionadas forem implementadas em 1º de agosto e mantidas, aumentaria a probabilidade de uma recessão econômica e de lucros corporativos nos EUA. O Secretário do Tesouro, Bessent, compreende a importância de evitar tarifas em níveis que possam prejudicar a atividade econômica, especialmente considerando que a relação dívida/PIB permanecerá em torno de 7% nos próximos anos após a aprovação do OBBB. Um “oficial” não identificado afirmou que as tarifas sobre o Canadá e o México seriam isentas pelo USMCA, o que indica que a administração está, ao menos, ciente do potencial de danos.
- Acreditamos, portanto, que essa nova rodada de escalada tarifária visa aumentar o poder de barganha da administração, que tende a recuar, especialmente se houver nova onda de volatilidade nos mercados.
- Nosso cenário-base permanece o mesmo: as duas partes provavelmente chegarão a um acordo antes de 1º de agosto ou a administração estenderá novamente o prazo enquanto as negociações continuam. No entanto, as exigências agressivas e maximalistas do presidente dos EUA — incluindo “acesso total e aberto ao mercado dos EUA, sem cobrança de tarifas” — tornam difícil prever a resposta da UE.
- Existe agora um risco considerável de que as tensões comerciais entre EUA e UE se intensifiquem, o que seria prejudicial para ambas as economias.
- Nossas estimativas indicam que o crescimento econômico europeu no segundo semestre pode se tornar negativo, com a demanda externa mais fraca e novas quedas na confiança, investimento e contratação.
- Neste cenário, conforme previsões de junho do BCE, esperamos que o banco central reduza os juros mais do que o previsto, podendo se aproximar de 1% nos próximos meses. Para mais detalhes, leia nosso blog “Presidente Trump ameaça tarifa de 30% sobre importações da UE”.
- Na carta em que ameaça impor a tarifa de 30%, Trump reconheceu os avanços do México na segurança de fronteira, mas ressaltou que são necessárias mais ações contra os cartéis de drogas e as barreiras comerciais. Acreditamos que esses três pontos estão avançando positivamente.
- Não esperamos uma retaliação significativa do México. Embora os detalhes ainda estejam sendo divulgados, tudo indica que a tarifa de 30% se aplicaria apenas a uma pequena parcela do comércio não compatível com o acordo USMCA.
- Isso sugere que o risco de um grande conflito comercial é baixo. A próxima revisão do acordo USMCA se torna, portanto, ainda mais relevante. Esperamos que o tratado seja mantido, mesmo com novas exigências por parte dos EUA. Para mais, leia nosso blog “México: choque tarifário atenuado pelo USMCA”.
Como investir neste cenário?
A administração Trump deve continuar com táticas duras de negociação, o que pode provocar novas oscilações nos mercados. Também é possível que a Casa Branca recue apenas se os mercados caírem. Temos recomendado aos investidores que adotem medidas para tornar seus portfólios mais resilientes diante dessa incerteza. Entre elas:
- Acreditamos que a valorização do S&P 500 será limitada até que haja maior clareza em relação à política econômica e novo afrouxamento monetário por parte do Fed, o que pode impulsionar os mercados em 2026.
- Para lidar com os riscos de curto prazo, recomendamos aumentar gradualmente a exposição a ações, aproveitando momentos de volatilidade. Setores como tecnologia, saúde e finanças nos EUA; tecnologia na Ásia (Taiwan, Índia e China continental); e estratégias temáticas ou de qualidade na Europa oferecem boas perspectivas de crescimento.
- Incluem a alocação em ouro, que tem se mostrado uma proteção confiável em tempos de incerteza política. Acreditamos que uma alocação de um dígito médio em portfólios em USD pode oferecer diversificação e proteção contra riscos políticos e inflação.
- A alocação moderada em determinados fundos hedge também pode aumentar a resiliência da carteira, aproveitando a volatilidade e equilibrando os retornos. Oscilações nos mercados podem ser aproveitadas para realizar lucros e tornar a carteira mais defensiva.
- A inovação continua sendo um motor importante de desempenho sustentável em ações e um diferencial das líderes de mercado. Transformações estruturais em IA, infraestrutura de energia e saúde estão ampliando os lucros globais e remodelando indústrias. Acreditamos que nossos temas TRIO — IA, energia e recursos, e longevidade — oferecem crescimento estrutural duradouro que pode superar a volatilidade de curto prazo.
- O papel tradicional do dólar como “porto seguro” está sendo questionado. Investidores já começaram a reavaliar sua exposição a ativos denominados em USD diante de políticas cada vez mais imprevisíveis.
- A incerteza deve continuar beneficiando moedas e ativos considerados seguros, como o franco suíço (e em menor grau o iene), em relação ao dólar. O euro tem sido a principal moeda usada por investidores que expressam dúvidas sobre a resiliência da economia dos EUA.
- Apesar da dificuldade de prever reações de curto prazo, a perspectiva de crescimento mais fraco nos EUA e espaço para cortes de juros favorece um dólar mais fraco. Assim, recomendamos aproveitar eventuais quedas do EURUSD para se posicionar visando uma valorização para 1,20 ou mais nos próximos trimestres.