Pesquisa do CIO
Tarifas ao Brasil não freiam mercados emergentes
Descubra por que os mercados emergentes continuam atraentes, apoiados por um dólar mais fraco e tendências estruturais de crescimento.
Apesar das ameaças tarifárias dos EUA, os mercados emergentes continuam com boas perspectivas. Entenda por que o impacto sobre o Brasil deve ser limitado e como fatores como o dólar fraco e a diversificação global podem impulsionar esses mercados.
Perspectivas positivas para os mercados emergentes
- Na nossa visão, a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, recentemente ameaçada, dificilmente será permanente e teria apenas um impacto econômico modesto no país sul-americano.
- Mantemos uma visão construtiva sobre os ativos brasileiros e enxergamos um desempenho sólido para as ações de mercados emergentes como um todo.
- O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, manteve sua postura de impor tarifas, anunciando uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras como parte de uma nova rodada de cartas enviadas a parceiros comerciais. Ele também declarou que a tarifa de 50% sobre o cobre entrará em vigor em 1º de agosto.
- O Brasil não havia sido incluído na lista inicial de parceiros comerciais quando Trump anunciou as tarifas “recíprocas” no “Dia da Libertação”, em abril, já que os EUA têm superávit na balança comercial de bens com o Brasil.
- Na carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Trump justificou a decisão tanto por motivos comerciais quanto não econômicos, alegando que o julgamento em curso contra o ex-presidente Jair Bolsonaro “não deveria estar ocorrendo”.
- Lula respondeu dizendo que “qualquer medida unilateral para elevar tarifas será respondida conforme a Lei de Reciprocidade Econômica do Brasil”.
- Não está claro com base em que fundamentos a administração norte-americana implementaria essa tarifa.
- Acreditamos que seria difícil justificar o uso da Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA), considerando o superávit comercial dos EUA com o Brasil. As Seções 232 e 301 da Lei de Expansão do Comércio de 1962 estão disponíveis ao presidente dos EUA, mas exigiriam uma investigação preliminar e teriam de se basear em queixas comerciais.
- Dado os possíveis obstáculos legais, consideramos improvável que a tarifa de 50% sobre o Brasil se torne permanente.
- Reiteramos nossa visão atraente para ações brasileiras e acreditamos que os mercados emergentes, de forma geral, devem continuar apresentando desempenho sólido em um cenário macroeconômico favorável.
- Em nossa avaliação, o impacto econômico sobre o Brasil seria modesto. A economia brasileira é relativamente fechada, com exportações e importações somando apenas 28% do PIB em 2024. Seu principal parceiro comercial é a China, enquanto apenas 16% das exportações totais do país têm como destino os EUA, o que representa menos de 2% do PIB.
- Embora a tarifa de 50% afete mais alguns produtos, como ferro e aço semimanufaturados, aeronaves, materiais de construção, etanol e produtos de madeira e derivados, acreditamos que o impacto geral sobre a economia brasileira é administrável. Esperamos, portanto, que o efeito direto sobre os lucros corporativos seja limitado.
- A fraqueza do dólar norte-americano deve persistir, favorecendo os mercados emergentes. O índice DXY já caiu mais de 10% este ano, e acreditamos que a tendência de enfraquecimento continuará nos próximos meses.
- Embora a ata da reunião de junho do Federal Reserve tenha mostrado pouco apoio a um corte de juros no curto prazo, “a maioria dos participantes” indicou que reduções nas taxas seriam apropriadas ainda este ano. Projetamos um corte total de 100 pontos-base nos próximos 12 meses, e o elevado déficit fiscal dos EUA também deve pressionar o dólar.
- Historicamente, um dólar mais fraco favorece os mercados emergentes ao estimular o fluxo de capitais e aliviar o peso das dívidas corporativas. Também abre espaço para uma política monetária mais flexível nos próprios mercados emergentes, o que deve impulsionar a atividade econômica local, promovendo investimento e consumo.
- Os mercados emergentes devem continuar sendo beneficiários importantes do movimento global de diversificação de portfólios. À medida que investidores buscam ampliar suas fontes de retorno, esses mercados oferecem acesso a ciclos macroeconômicos e políticos únicos, oportunidades de crescimento estrutural e benefícios de diversificação — especialmente em um cenário de fragmentação geopolítica crescente e reconfiguração das cadeias de suprimento.
- As ações de mercados emergentes ainda são pouco representadas nas carteiras globais e só recentemente começaram a atrair fluxos de entrada, o que pode contribuir para uma perspectiva mais construtiva no médio prazo para essa classe de ativos.
- Assim, embora continuemos a destacar a possibilidade de volatilidade no curto prazo, vemos um potencial de valorização de dígito único médio para ações de mercados emergentes nos próximos 12 meses e mantemos nossa classificação Neutra.
- Recomendamos uma abordagem seletiva, com preferência por histórias de crescimento estrutural em Taiwan e Índia. Também gostamos do setor de tecnologia da China continental, dado seu potencial de monetização e lucros resilientes, assim como do Brasil, graças às valorizações atrativas e ao sólido crescimento econômico.